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fim de semana/resto de mês

os dias não são o bastante pra quem:
                                    quer se entregar


                                    quer se entregar, e enfim
o tempo foi quem deixou-se acreditar.

  foi
o tempo
          deixou-se acreditar, e enfim
                                    vem se entregar,
                                    vem se entregar.

porre docê

uma dose de verossimilhança
    duas de insolubilidade, nessa mesa de bar que é o chá das três

sopraram os ventos. levaram angústia. trouxeram reencarnação.

aqui jaz a tormenta. o silêncio conforta. são tempos de paz.

me visita. abre minha porta. me flagra nessa embriaguez

e vem beber em mim.

escarlatina

desabo em forma de cobertor na pele branca
desarmo travas, medos de monstros do passado
deságuo afetos solúveis no suor/ somos escarlatina

as marcas {de quem não sabe morder}
    designam, significam
        são ilustrações em você

a superfície branca/ riscada em vermelho/ faz-se em cor/ fez-se amor
do chão, com o tato, procuro o teto/ e toco o céu
luzes de constelações cadentes/ complacentes

as marcas {de quem conversava com estrelas}
    designam, significam
        são ilustrações de nós dois.

retorno ao âmago

falidos os deuses
abnegada a razão
renunciado o outro novo;
fragilidade, essência

é

o homem,         um próximo deus
a pureza,        nossa última virtude
e a poesia,      [ainda preenchível]




.

fronteiras

só a linguagem é capaz de nos emancipar
                                        da massificação

/na flor do dicionário

já assistiu o céu por uma janela de avião

e rompeu estados
irrompeu Estados

sentiu o perfume de Minas

e provou as horas da noite gelada
povoou a madrugada.

há saudade/

{no verde musgo
entre o amarelo desbotado,
e o castanho cintilante
através do negro renegado}

/na flor daqueles olhos.

Poesia, nunca mais /segunda leitura

eu discordo,

teus versos já foram escritos
mas jamais postos em papel.

e como são levianas as versões impressas.
tolas. insuficientes.

sem lápis, poemas particulares.
compartilhadamente particulares.

alguns, ditos. a maioria, silenciados.
nem por isso menos interpretáveis.

poesia, nunca mais.
um dia a casa cai (para nosso bem).

poesia é o toque. é a troca.
em sonetos de olhares teus.

é a construção da pureza.

vamos escrever juntos,
ler os rascunhos
     e guardar o resultado pra gente.