Transformar dor emocional em dor física é possível.
É sabido que se transforma energia cinética em energia térmica. O processo é o mesmo.
Afasta a tormenta. Espanta a tempestade. Passa a angústia. Quase toda ela. É uma substituição, na verdade.
Substitui-se por devaneios. Por desapontamento. Raiva. Até tudo virar mal estar, náusea.
Então você pode cuspir para fora. Junto com ela, saem todas as preocupações. Todos os incômodos.
Fica apenas a dor de estômago. Mais leve e suportável que a ferida aberta no peito.
Olha! Aquele homem está se embriagando:
perdeu o emprego
ou um ente querido
talvez um filho
quem sabe foi traído
divorciou-se da esposa
ou nunca conseguiu ter uma
foi despejado
não consegue pagar o aluguel
lhe falta dignidade, força de vontade.
Balela!
A dor não é apenas subestimada. É ácida. E por isso dói tanto.
O que o homem quer é esquecê-la. Expulsá-la. Transformá-la em vômito.
É compreensível. Justificável. Válido. Eficaz. E só agora faz sentido.