Páginas

baleias

das baleias quero as asas e o ventre;

uma pra voar além do que imaginam ser o teto do oceano
outro pra entrar e dormir
e me deixar levar à imensidão abissal
pra sentir o volume da água e chegar ao inconsciente
no coração do mar.

re nascimento

Semente
Bruta
Seiva
Ininterrupta
Química
Turva
Simbiose
Gratuita
Liberdade
Fortuita.

o mergulho

fecha os olhos e mergulha,
agora vai, voa
pode respirar,
traz o céu pro mar,
que a água é teu lar
e nunca falta ar
no infinito azul.

covardes verdades

foi um dia esquisito na cidade,
quando começou a chover verdade.

a violência das palavras quebrou janelas
e parou algumas máquinas.
na tv o noticiário subestimava,
lá fora o povo se desmassificava.

covardes buscaram marquises,
poderosos se trancaram em casa,
mas muitas crianças saíram às ruas
e famílias se encontraram nas praças.

a chuva fez estrago
destruiu, libertou e esclareceu.
deixou sequelas irreparáveis
a quem não se escondeu.

é, foi um dia esquisito pra quem tava na rua...
e até hoje me arrependo quando abro meu guarda-chuva

diáspora da solidão

Ele traz consigo a desumanidade da juventude
Aparece (toca, atravessa, manifesta, usa, põe, dispõe) e desaparece.

É um espectro. Um fantasma.
Caminha, rasteja. Soturno, espírito baixo.

Tatua experiencias trágicas
poesias, angustias e frustrações.

Da carne, desencarna
Porque a solidão é maior quando compartilhada entre corpos vazios.
Vinhos fermentam e azedam
Cigarros queimam e enjoam

E o tempo não nasce ou morre. Apenas se arrasta.

desejo por ele próprio

a vibração é opaca,
fosca
ocre
oca
loca
e me mata pela boca.