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problemas com a subjetividade do poeta

Prof. Roberto,

Lhe escrevo para que me ajude com algo que há algum tempo vem me atrapalhando. Perdoe-me pelo contato através de uma carta improvisada, mas como não o encontrei no Instituto nas últimas duas semanas, não tive outra opção senão escrevê-lo, já que considero meu caso como uma urgência.

Prometo que serei breve e direta, professor. Eu preciso de um eu-lírico.

Se lhe pareceu sarcasmo ou insolência, acredite, não foi minha intenção. Tenho dolorosamente insistido em escrever histórias que não pareçam páginas de meu próprio diário. Ando falhando. Em meu último livro de contos, "Cartas anônimas num salão de balé", fiquei impressionada com o número de pessoas que me mandaram mensagens, quase todas tentando me consolar. 

Não me tornei uma boa escritora. Me faltam boas figuras e poder de criação. Meus personagens são rasos e sem gosto. Em poemas, escrevo sentimentos e passagens de minha própria vida. Ela nem é tão interessante! Penso que o motivo de meu razoável sucesso está relacionado à minha habilidade em ser vítima de minhas próprias palavras, mas com um certo carisma.

Preciso de sua ajuda, professor. 

Assim como a personagem principal do meu último livro também precisava, quando escreveu uma carta numa folha de papel ofício A4 como esta. Essa personagem, Rebeca, me persegue. Por mais que mude seu nome, nacionalidade, aparência física e temperamento, no fundo, ela sempre parece a mesma pessoa. Eu.

Preciso de um eu-lírico, professor. Espero que entenda. 
Preciso muito de um eu-lírico que-não-eu.

Cordialmente, 
sua aluna Amaranta.

6 comentários:

ryan disse...

Preciso de um eu-lírico,USHUAHSUHSUAH,também preciso,momentos de confusão,estress,amor,ódio ficam bem explícitos e daí surgem as perguntas,vc está assim ou assado ? Sim pq,vai ajudar ? rsrsrsrs
Criação de personagens,eu apoio[2]

Luiz Ribeiro disse...

ainda não li seu blog, resolvi comentar antes seu comentário no meu pra não me contaminar!

sua análise do bentinho é bastante boa, concordei! A questão pra mim é que no caso do apaixonado não existem verdades, ou seja, os casos de amor são uma espécie de ficção interna que alimentamos todos os dias, então Capitu entra nessa ficção como a traidora. Lembrei agora de uma frase de um professor: "bentinho é um corno, mesmo que Capitu seja santa."
Acho que é isso! (comentar aqui me deu idéia prum post)
abraços

Nathália E. disse...

Eu só preciso de uma vida interessante.

Kakau disse...

Oi, Clarice Lispector? É você? rs.
Crise existencial, isso sim é uma característica marcante da ausência de um "eu-lírico" .

Amália Morais disse...

Pra mim, todo eu-lírico é reflexo dos seus respectivos autores. Acredito que, mesmo que inconscientemente, os personagens funcionam como uma espécie de camuflagem pros escritores. O seu íntimo atendendo por outro nome,sabe? Enfim... rs.

Amália, quase Amélia, divagando sobre seu texto.

Mariana Fontes disse...

Acho complicado falar sobre eu-lírico. falei

Mesmo porque, eu quase nunca tenho um.
Mas, deixo claro: nem por isso tenho crise existencial.
Acho extensa a discussão. Abstrata.

Sou dadá,

beijos do querido Duchamp ;*