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O Metrô, episódio II

Ele não chega do nada. Sente-se sua presença ainda distante, ouve-se um urro mecânico, aquele som ou barulho que lembra uma avalanche corredor a dentro. É ele quem está chegando. Seus grandes olhos brilhantes iluminam todo o longínquo caminho escuro até que possamos ver sua face azul metálica. Sim, é ele. É hora de dar um passo a frente e cruzar a linha amarela.

Todos estamos esperando-o da mesma forma, confortáveis e despreocupados. Particularmente, não pensava em nada tão específico até o momento. Os outros eu já não sei. Nem imagino. Afinal, são tantas pessoas ali. Tantas vidas, tantas histórias, tantos caminhos diferentes e que se cruzavam diariamente dentro daquela fabulosa estação. São tantas pessoas... elas se relacionam e interagem ativamente. Por algum motivo ainda desconhecido, o comportamento humano ao vê-lo dobrando a pequena curva que antecede na estação Uruguaiana se torna mais agressivo. O conforto acaba e todos se espremem rigorosamente buscando posicionar-se estrategicamente para recebê-lo da melhor maneira possível. É lindo.

Quanto mais ele se aproxima, mais o solo torna-se inconstante, ele treme. Treme de medo, de respeito e admiração. E também pudera. É o senhor do subterrâneo que se apresenta. Robusto e intimidador. O som de seus freios ecoa por toda a galeria, construída especialmente para ele e somente ele desfilar. Nós somos meros espectadores.

Ao parar, o espaço entre uma e outra pessoa torna-se ainda menor. E não há fórmula física capaz de provar que existem possibilidades reais de tantas pessoas entrarem num lugar tão pequeno quanto aquele. Novamente, é lindo!

Poucos que cruzam este lugar mágico percebem a delicadeza do espaço, poucos realizavam quão simbólico era estar diante aquele grandioso colosso do movimento entre zona sul e zona norte. Ninguém se importa. Apenas eu: "É ele" - pensei - "Estou diante dele". O cavalo de ferro azul metálico.

E não tardou até as portas se abrirem.

5 comentários:

Mariana Fontes disse...

E você falando que eu sei fazer isso bem, rs.

É incrível, é artístico. No sentido mais essencial da palavra.

Transformou o utilitário no que tem valor por si mesmo. A coisa deixou de ser utensílio pra ser imagem. Ficou, mais do que qualquer outra coisa, artístico, como eu já disse. E belo. Que estética!
Você é bom nisso.
E eu quero a continuação!


Pode mandar beijo?

douglas nascimento disse...

Não sei agradecer muito bem, haha, você sabe. É complicado. Mas gostei a beça do comentário.

E claro que pode mandar beijo, querida. Aqui vale tudo - Só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher.

douglas nascimento disse...

O movimento gay que perdoe a mim e ao Tim.

Amália Morais disse...

E eu posso concluir que sua infância foi regada a muita história de Guerra nas Estrelas e Cavaleiros do Zodíaco, certo? rs
=)

douglas nascimento disse...

Mais Cavaleiros do Zodíaco do que Guerra nas Estrelas, porém, mais Guerra nas Estrelas do que qualquer outra coisa. Hahhaa.

Acertou em cheio.